Rotulagem ou rotulação, whatever...

Vivo numa sociedade que dá valor a valores cada vez menos relevantes do ponto de vista do que é útil para a vida.
A geração de pessoas à qual pertenço é, talvez, a geração da qual mais gente conseguiu entrada no ensino superior português. É uma geração que eu analiso e, às vezes, não gosto...
Olho com orgulho para a geração do meu irmão... Vejo na geração a sensibilidade pelo que é, de facto, importante. Coisas que entretanto se perderam no meio de jogos de computador e da Internet.
A geração dele, é certo, não teve uma taxa de tanta gente nas Universidades, Institutos, Escolas Superiores ou o que quer que seja...

Venho observando um fenómeno e, desde que entrei no Ensino Superior tenho visto que o fenómeno é, a meu ver, alarmante. Entretanto já saí da Faculdade e contínuo a ser perseguido pelo tal fenómeno. Falo-vos do fenómeno da rotulagem ou rotulação, whatever...

A malta da minha idade e, sobretudo a mais nova, ganhou o hábito de rotular as pessoas...
Já sabemos que isso vem acontecendo desde há muito mas este de agora é fruto de pensamentos e atitudes fúteis.


Ontem durante um jantar entre amigos e amigos de amigos disse a um amigo meu:

O pessoal agora tem a mania de "colocar" rótulos. Porque é que quando nos apresentam a alguém existe a necessidade de dizerem, por exemplo, "Ele é o meu melhor amigo"?! Isso para mim não passa de um rótulo...
Fui mais a fundo e dei-lhe o meu exemplo.
Quando me apresentam a alguém há sempre aquela tendência de dizerem: "Ele é professor.". E voltei à pergunta retórica: Porquê?! Ele não me respondeu e continuou a ouvir-me. Prossegui o meu discurso dizendo que, depois das pessoas a quem fui apresentado saberem que eu sou professor ainda tecem aqueles comentários tão giros como: "Tão fofo!".

Ele riu-se e a conversa ficou por ali...

Passados alguns minutos alguém (AG) se lembrou de dizer a uma rapariga (F) que estava lá no restaurante uma coisa muito importante.
- O Faleiro é professor! - disse a AG.
- Professor de quê? - disse a F.
- Sou professor do Primeiro Ciclo. - disse eu.
- Que querido! - disse a F.
Foi neste momento que me levantei e disse ao meu amigo: "Estás a ver o que acabou de acontecer aqui?!". Ri-me, chegou!


Onde é que eu quero chegar?!

Nas gentes da minha idade e mais novas há uma tipologia de pergunta que permite colocar o rótulo.
Hoje em dia, as pessoas estão mais interessadas em saberem qual o curso SUPERIOR que a outra pessoa frequenta em vez que saberem coisas tão simples como o nome...

O que é que estudas?
Onde é que estudas?
Estás em que ano?

Tenho amigos de vários quadrantes, muitos não licenciados...
Nem toda a gente tem a oportunidade ou o mérito de conseguir estar no Ensino Superior. Já pensaram o que é perguntarem isso a quem não teve essa oportunidade?!

Gostava de não sentir a necessidade por parte das pessoas em saberem o curso umas das outras e gostava igualmente que se dedicassem a conhecer realmente "o outro", que dessem valor à forma de pensar, aos ideais...

Informações fúteis para quê?! Só para haver tema de conversa?


Não, Obrigado!
Estou farto de rótulos!

Comentários

Anónimo disse…
Gostei muito do texto primo.
Cada palavra sem tirar nem pôr, porém tens que te habituar, porque na sociedade onde vivemos, ou seja, a nossa geração é mesquinha por vezes, individualista e sentem a necessidade de rotular os outros (cada vez mais..)

Mas eu também serei professora futuramente e depois tambem me vão rotular?!?! =P
Anónimo disse…
Pq um nome? Pq um estatuto? Pq que temos de informar o que é informal? Pq que não nos limitamos a usar os nossos sentidos? Pq que temos a necessidade de artefactos? Se muitas vezes a explicação e o fascínio das coisas, está no que é inexplicável. Pq que não acreditamos mais nos nossos sentimentos? Teremos nós a viver mais uma crise?! A DOS AFECTOS, DOS SENTIMENTOS, DOS SENTIDOS, DO CONHECIMENTO DE NÓS PRÓPRIOS?

Aquela lágrima mágica

p.s: Tu sabes quem é:)

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